Sou Poeta, quero Cantar!

sábado, 24 de janeiro de 2015

Tempo que se faz eternidade

O farfalhar das folhas
Esparramadas pelo chão
Na aridez da caatinga
No calor do sertão
Do sofrimento
Do lamento
Do coração sedento
Vejo a todo momento
A vida do sertanejo
A sina de um realejo
No seu repente solfejo
Chorar a ingratidão

Folhas secas
No solo árido
Alarido das aves
Avoantes
Ao som da espingarda
Na beirada da lagoa
Um cântico de horror entoa
Som de asas ao entardecer
Somente uma resta no chão
Ali sem vida
Será salgada e comida
Pelo o retirante
Faminto
Emoção

Essência do Nordeste
Sem vento leste
Carência de água
Clemência que apaga
A pobreza do agreste
Nesta moldura
Pintura de uma realidade
Desconhecida da cidade
Meu pai então
Facão na mão
Fazia a poda
Nos cajueiros
Para a próxima floração

Uma energia
Eiva a cepa
Com um golpe
Penetra a argila
Da a liga
Na beirada do córrego
Transforma
O solo e a água
Em vida

Pruridos
Formam a próxima estação
Das flores e dos frutos
Da colheita
Da fartura
Da canção que o sanfoneiro
Vai animar o forro
Mio que a Margarida
Quando sofrida
Carcareja
Põe sou ovo debaixo do umbuza

Com respeito
Na espreita
Bebo a sabedoria
que se faz presente
No sol a pino
No vento quente
No mormaço que sobe
E envolve todo o espaço
E meu suor goteja
Sem cessar

Sou parte
Da arte deste sertão!
Com meu suor
A nova criação
Transforma e dá forma
À natureza
Sou liga
Sou beleza
No fenômeno que me instiga
À nova vida
Na aurora que goteja
Orvalho
No ocaso que mereja
Sereno
No tempo
Que se faz eternidade...



Alvaro de Oliveira Neto
Fortaleza 24/01/2015