Sou Poeta, quero Cantar!

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Fortaleza, tudo passa!



Fortaleza

Que beleza!

Os verdes mares bravios de águas quentes

A natureza do coqueiral alçando voo ao infinito

A jangada de piúba com o seu Dragão do Mar

A brisa sempre a passar levando o cheiro do sal

O sol fresco se espraiando pelos quintais de pomares

A Sabiá, o rouxinol, o Bem-te-vi

O Galo de Campina, o Canário da Terra




O tempo se foi

A memória se foi

A história se foi

A Cidade se foi




Nas esquinas sem memória

Nos espaços sem história

Sem lembranças

Sem o Pirambu do Chico da Silva

Que hoje é da maconha

Sem o Morro do Ouro do Eduardo Campos

Que hoje é da maconha

Sem a cearense brejeira e faceira

Com a bacia de roupa na beira da lagoa

Lavando a roupa da sinhá

Que hoje e da maconha e da prostituição na Beira Mar




Tudo se foi

Sem volta

Sem pensar...




Cheguei antem e te encontrei a mesma que deixei

A mesmice provinciana que carregas nos conceitos

E também nos preconceitos

Nos tentáculos dos atos

Nas rodas ebrias das trocas

Na ressaca da capacidade de seduzir

Sem parir o pão dos inocentes




A mesma alegria bêbada que contagia

O mesmo sol quente que mata gente

A mesma nostalgia do entardecer sem esperança

A mesma beira mar congestionada sem lembranças




Caminhando sem cessar

O mesmo calor sem cor

Malandro

Melando meu corpo de maresia

Amolecendo o meu coração

Anestesiando minha cabeça

Vomitando tragedia

Comédia

Parei!...




Quanta dor ter que te dizer

Todo este clamor

Queria mesmo era que

Todo o prazer de te rever

Se transformasse em paz

Mas…

Impossível!




Preciso te caminhar

Te confidenciar o passado

Memórias

Sorrindo...

Sem olhar para todos os lados

Sem querer ser alado

Sem pedir passagem a criminalidade

Sem bala zumbindo ao meu lado

Sem ver tudo passar

E não encontrar uma razão

Uma oração

Por que?




Não existe mais a minha infância inocente

Não existe mais o meu recanto adolescente

Na ingenuidade dos teus braços cajueiros

Nos quintais, nas cacimbas, nos coqueirais

Legado que ficou lá atrás




Nem as pipas entrelaçadas no céu

Com crianças sem véu

Gritando a brincar




Agora

Pitando drogas

Portando armas

Matando, cortando na veia

Alheias, abortando, morrendo




Coqueiros sem arranha-céus

Tempos roubados

Pelo espaço aço

Pelo espaço concreto

Sem afeto

Cortando o coração da minha Cidade




Sem mais nem menos

Sem acenos

Sem a canção do apito do trem

De quem volta

De quem vem

Sem o sino da igreja

Sem aviso da oração

Não convém ao progresso

Não convém o regresso




Quem não te vê

Quem não te crer

Quem não quer ser você de hoje

Que te compre o amanhã

Rompe o que corrompe toda a ingenuidade

Desta Cidade onde nasci

E hoje esqueci

Sou obrigado a esquecer

Sou obrigado a fugir

Por que?




Sem carinho e sem afeto

Feto de quem foi

Abortado

Sem nada a compor

Sem repor

Nem decompor

Estou somente no teu passado

O presente são outros campos arados…




Fortaleza!

Quanta beleza ficou pra trás…







Alvaro de Oliveira Neto

Fortaleza 10 de outubro de 2014